OS
ESPECÍFICOS MACROBIÓTICOS JAPONESES.
Tradução (parte) livre dos
artigos de Gèrard Wenker:
·
“Específicos
Macrobióticos. Os específicos macrobióticos em questão! Ou o sindroma do Yin” –
2005
·
“Pourquoi
la macrobiotique utilise des produits japonais” – 2012
A utilização de certos produtos
japoneses na dieta macrobiótica foi recomendada no seu tempo por Georges Ohsawa
e continua a ser ainda hoje pelos seus discípulos e conselheiros macrobióticos,
com excepcional eficácia.
A particularidade destes específicos,
é a sua ligação directa com a dialéctica
Yin-Yang. Para a maior parte deles, a sua origem remonta à antiga China.
Foram de seguida retomados e preservados pela tradição japonesa. Alguns foram
mesmo inventados por G. Ohsawa, sempre tendo em conta a dialéctica universal.
A receita de preparação é sempre
a mesma – utilizar um produto muito yin e torná-lo yang por intermédio de
diversas operações por vezes simples, mas também algumas vezes muito sofisticadas
– o fogo, a pressão, o tempo, o sal – todos os quatro têm uma acção yang,
dizemos que yanguizam. Utilizados com
sabedoria, com a consciência do processo yin-yang podem produzir resultados
miraculosos.
Examinemos
os principais específicos com algum detalhe.
PRODUTOS ELEBORADOS POR G. OHSAWA:
Dentie
(*) – Pó à base de sal e beringela
calcinada. Muito eficaz para todas as afecções da boca (gengivites, piorreia,
úlcera do estômago) e para parar hemorragias. Pode ser utilizado como
dentífrico – Atenção: não utilizar
regularmente para não prejudicar as gengivas e o esmalte dos dentes (NDT).
Muito, muito yang.
Dentífrico com dentie – em tubo misturado com argila.
Gomasio – Condimento
composto por sementes de sésamo tostadas, esmagadas com sal num almofariz
estriado (suribashi). Tostar a seco as
sementes de sésamo (pequenas = yang) – operação eminentemente yang, esmagá-las
(ainda uma acção yang) e adicionar o produto mais yang, sal tostado, em
proporção variável segundo a condição de cada um (1:7 a 1:22). Desacidifica o
sangue e dá bom humor.
Chá Mú (*) – Preparação
com 16 plantas, incluindo o ginseng. Reforça os órgãos femininos e aquece o organismo.
Bebida yang muito energética concebida por G. Ohsawa.
Yannoh
– Ou “café Ohsawa”. Tostar num pouco de óleo de sésamo: 3 partes de
arroz + 2 partes de feijão azuki + 2 pates de trigo + 1 parte de grão de bico e
moer. Ferver 2 colheres de sopa durante 10 minutos em ½ litro de água.
Estimulante cerebral, eficaz para dores de cabeça crónicas yin. Bom para a
memória e a concentração.
PRODUTOS
TRADICIONAIS DO JAPÃO:
Chá de 3 anos (*) – Chá
tradicional dos mosteiros Zen japoneses. Bebida yang indispensável em
macrobiótica. O chá Bancha vem dos
chazeiros selvagens. O Kukicha provem
dos ramos e galhos deixados a secar durante 3 anos nas plantas. O Hojicha é composto unicamente de folhas.
Depois da colheita, estes chás são ainda ligeiramente tostados para eliminar
qualquer traço de alcalóide – cafeína, teína. Ricos em tanino, cálcio, fósforo
e em vit. A, têm ainda uma acção bactericida e desintoxicante. Bom para fadiga,
reumatismo, ulcera, icterícia, neurastenia.
Tekka – Do japonês Tek que quer dizer ferro. Condimento
muito yang composto por raíz de bardana, raíz de lótus, de cenouras, de
gengibre e de um pouco de óleo de sésamo, finamente picados e envolvidos
durante 3 horas em miso (hatcho miso),
sendo tudo calcinado até se obter um pó negro. É um tónico do coração e um
yanguizador muito potente, a utilizar com moderação. Fortifica o coração e é
bom para a anemia e tuberculose.
Miso – Preparação elaborada
a partir do feijão de soja, sal e koji (enzima),
longamente fermentada sob pressão. O hatcho
miso é uma pasta de soja salgada fermentada durante 2 anos que serve para a
confecção de molhos, sopas e caldos. Existem numerosas variedades de miso
preparadas a partir do arroz, cevada, trigo sarraceno, etc. Fortificante yang,
neutraliza as radiações yin.
Tamari (*) – O
tamari vendido na Europa é na realidade shoyu concentrado. O verdadeiro Tamari
autêntico é um subproduto do fabrico do miso. É muito forte, espesso e não
contém trigo. Tónico do coração é bom para ciáticas e nevralgias.
Shoyu – Molho
de soja tradicional, contém soja, trigo, sal e água da fonte. Colocado em
cultura com koji, a sua fermentação dura 12 a 18 meses. Na Europa é
comercializado sob o nome de Tamari, isto para não se confundir com os molhos
industriais elaborados quimicamente em alguns dias. Tónico do coração é bom
para ciáticas e nevralgias.
Ameixa de Ume –
A Ume é uma ameixieira cujas ameixas
ácidas não são comestíveis no seu estado natural – submetendo-as a várias
lacto-fermentações, os japoneses fizeram delas uma preparação medicinal com
virtudes tão variadas como eficazes.
Ameixa Umeboshi (*) – Pickles
de ameixas Ume salgadas, envelhecidas vários anos em madeira de carvalho.
Específico do fígado, estômago e intestinos. Bom para o sistema digestivo,
parasitas intestinais, estômago, fígado.
Bonito (*) – Variedade
de atum, cujos filetes secos ao Sol são ralados e reduzidos a flocos. Serve
para preparar um caldo muito energético para os períodos de muito frio. É o
único produto tradicional elaborado a partir do reino animal.
Feijão Azuki –
Pequeno feijão vermelho específico dos rins. Os melhores provêm da ilha
Hokkaido no extremo Norte do Japão. Uma variedade mais corrente é produzida em
Itália. Regeneram os rins, bom para diabetes, cãibras menstruais.
Alga Hiziki –
Alga negra em forma de filamento, sabor forte (a iodo), a mais yang das algas. Melhora
a circulação venosa, boa para varizes, hemorróides.
Kuzu (*) – Fécula
branca de amido extraída de uma raiz de planta selvagem. Utilizado na cozinha
como espessante. Específico yang dos
intestinos. Regulariza os intestinos, bom para prisão de ventre, diarreia,
catarro pulmonar, rinite.
Soba – Massa
(esparguete) confeccionada com a farinha do trigo sarraceno. Prato que aquece.
Arroz Integral –
Arroz de grão inteiro descorticado não refinado/polido, cereal de base da
cozinha macrobiótica pelas suas virtudes nutrientes e desintoxicantes. O arroz
integral foi abandonado no início do sec. XX em todo o Extremo Oriente a favor
do arroz branco refinado graças a uma máquina de descorticar simples e robusta,
inventada pelos alemães. Desintoxicante, limpa o organismo em profundidade.
(*) – importado do Japão
PORQUÊ
A MACROBIÓTICA UTILIZA PRODUTOS JAPONESES ?
Porquê utilizar numerosos
produtos orientais ? – o que está em contradição com uma das regras da
Macrobiótica: o consumo de produtos regionais de proximidade e da estação.
Este dilema, por vezes polémico,
continua ainda hoje a existir e já lá vão mais de 40 anos ! – e quase provocou
o desaparecimento do movimento macrobiótico em França.
Gérard Wenker responde-nos
baseado na sua experiência prática e histórica:
1)
Durante séculos o Extremo Oriente
desenvolveu receitas culinárias e terapêuticas sobre uma base vegetal
vegetariana, de uma grande eficácia no tratamento de certas doenças –
Fitoterapia, Medicalimentos.
2)
No Ocidente, o foco inseriu nas
transformações à base de produtos animais – charcutaria, “foie-gras”, patés,
carnes fritas em banha, enchidos, carnes secas, etc.
Quanto à verdadeira Fitoterapia
ocidental, desapareceu completamente, interdita no Renascimento Italiano no
sec. XVI.
Alguns produtos macrobióticos são específicos terapêuticos muito
eficazes, mas não reproduzíveis nos nossos países: tal como o Kuzu, as ameixas
Umeboshi, o Chá de 3 anos, as raízes de Lótus.
Outros, de fabrico muito delicado, são hoje em dia produzidos na
Europa – tais como o Miso e o Tamari.
Os feijões Azuki são provenientes da bacia do Pó em Itália, se bem que
os azukis da ilha japonesa de Hokkaido sejam bem mais eficazes para curar as
doenças dos rins. As abóboras originárias da mesma ilha são semeadas hoje em
dia em muitas hortas familiares de França, Bélgica, Portugal …
Quanto às algas Kombu e Wakame, 80% provêm da Bretanha.
Isto diz respeito aos países da Europa, já que para outras regiões do
globo terrestre é bastante mais problemático.
Mas antes de mais, é necessário
diferenciar a alimentação macrobiótica corrente universal da alimentação
dietética restritiva terapêutica.
Podemos diferenciar 3 períodos
na prática Macrobiótica:
A Macrobiótica é a adaptação de
uma ideologia metafísica a um modo de vida prático.
A Macrobiótica não tem nenhum equivalente, ela é única.
Por outro lado, se não há senão
uma Macrobiótica, podemos distinguir 3 orientações diferentes na sua aplicação.
1. A Macrobiótica de regeneração = aplicação.
2. A Macrobiótica de desenvolvimento = interpretação.
3. A Macrobiótica de libertação =
intuição.
A primeira fase começa pela aprendizagem e uma aplicação estrita das
regras e dos princípios. A segunda etapa prossegue depois de se ter estudado a
dialéctica universal, também chamada “Yin-Yang”, por uma interpretação mais
liberal. A terceira parte, termo lógico dos esforços realizados nas etapas
precedentes, está marcado por uma existência de liberdade, orientada por um
julgamento intuitivo próximo da conscência suprema.
A
Macrobiótica de Regeneração – Esta primeira etapa, a Macrobiótica de
regeneração e curativa, é a única que é restritiva e que necessita na maior
parte do tempo de específicos japoneses, como complemento para ser
verdadeiramente eficaz e rápida. Os alimentos de base como o arroz integral e
os outros cereais, os legumes, as leguminosas secas, os frutos, os óleos, os
chás e as tisanas, etc. estão disponíveis em todos os países do nosso planeta.
O problema situa-se principalmente ao nível da qualidade e dos produtos não
refinados.
A
Macrobiótica de Desenvolvimento – A segunda etapa, mais liberal,
prossegue com uma interpretação pessoal da dialéctica universal energética
yin-yang, que é indispensável, bem entendido, termos integrado. Esta
macrobiótica cruzeiro (corrente) já não necessita de específicos, mas
unicamente de um equilíbrio alimentar com os produtos locais/nacionais à nossa
disposição.
A
Macrobiótica de Libertação – A terceira parte, termo lógico dos esforços
realizados nas etapas precedentes, é marcada pela existência de liberdade,
orientada por um discernimento intuitivo e espiritual. Idealmente, deveríamos
todos lá chegar.
Resumindo, uma Macrobiótica
Padrão Regional, preconizada unicamente com os produtos locais, é possível e
mesmo recomendável, mas unicamente para as pessoas que ultrapassaram a primeira
etapa e controlaram definitivamente os seus problemas de saúde.
A acção dos “medicalimentos” (para os “tratamentos/cuidados internos”)
como remédios familiares – específicos ou bebidas –, são consumidos com o
objectivo de eliminar perturbações fisiológicas. A maior parte das vezes são
acompanhados com “tratamentos/cuidados” externos para uma maior eficácia
terapêutica – como por exemplo, as compressas de gengibre.
Todos estes específicos macrobióticos, muitas vezes aconselhados por
G. Ohsawa e consultores macrobióticos actuais, violam um dos princípios
macrobióticos fundamentais: “devemos
consumir alimentos provenientes da mesma zona climática e regional da nossa,
alargada a um raio de 500 Km”. Georges Ohsawa justificou esta escolha pelo
facto de que na Europa a maioria dos produtos tradicionais de acção yang são de
origem animal, portanto difíceis de utilizar e equilibrar. O Japão, muito ao
contrário, sempre deu preferência a produtos de origem vegetal que têm uma
polaridade mais fraca, e portanto bem mais fáceis de equilibrar.
Quando G. Ohsawa começou em 1956
a tratar os doentes nos diferentes campos macrobióticos, a maioria dos
pacientes que ele via, tinham doenças yin, o que, por outro lado, também se
verifica sempre hoje.
Os tratamentos internos e
externos necessitam pois, na maior parte dos casos, de um reequilíbrio do lado
yang. Esta yanguização é obtida, por um lado por específicos yang de acção
rápida (gomasio, miso, tekka) e por outro lado por uma profunda modificação da
alimentação (arroz integral, azukis, kuzu) e sobretudo por uma maneira de
cozinhar muito mais yang (nituké). A
juntar a isto, a supressão de todos os alimentos julgados muito yin (frutos,
alimentos crus, bebidas alcoólicas, tomates, batatas, açúcar, chocolate,
pastelaria, etc. etc.).
Mas atenção … não somos
super-homens … é necessário entender e estudar bem o Princípio Único, o segredo
da dialéctica universal … senão a doença aparece de novo e ficamos de novamente
doentes …
A TEORIA SEM A PRÁTICA É INÚTIL …
E A PRÁTICA SEM A TEORIA É PERIGOSA …