A ENERGIA DOS ALIMENTOS
Quando comemos, absorvemos a energia dos variados alimentos, que, por
sua vez interagem com a nossa energia interna, modificando-a. A energia daí
resultante poderá produzir um estado emocional diferente; ou produzir uma
mudança na maneira de pensarmos, ou até levantar-nos o ânimo. Quanto mais tempo
ingerirmos alimentos que transmitam um mesmo tipo de energia, tanto mais
profunda e duradoura será em nós a sua influência. A energia proveniente de
alimentos vivos é, naturalmente, mais benéfica que a energia proveniente de
alimentos processados e desnaturados.
O que são os alimentos vivos
Considera-se que um alimento está vivo quando pode continuar a
crescer. Por exemplo, se colocarmos cereais integrais, leguminosas secas ou
sementes num pano húmido dentro de um lugar protegido da luz solar, germinarão.
Se plantarmos uma fruta, possivelmente irá converter-se numa árvore; os legumes
de raiz também podem ser replantados e dar início outra vez a um ciclo de
crescimento; podemos conservar os legumes de folha verde submergindo os talos
em água para que continuem vivendo. Por outro lado, nos alimentos fermentados
tem lugar um micro processo onde prosperam enzimas vivas.
A energia de cada alimento é a
soma total de tudo o que contribuiu para o seu crescimento. Actualmente é
possível ver essa energia por meio da fotografia Kirlian. Os alimentos que já não estão vivos, como o peixe, a carne
ou os produtos lácteos, ainda conservam energia vital, porém esta será menor
que no caso dos alimentos que permanecem vivos até ao momento de os
cozinharmos, que irá diminuindo com o decorrer do tempo. Igualmente, os
alimentos processados possuem energia vital, porém é uma energia muito mais
débil que a dos alimentos vivos.
FACTORES QUE INFLUENCIAM A
ENERGIA DOS ALIMENTOS
A direcção
em que crescem
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Para cima, para baixo, para fora, na horizontal
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O clima em
que vivem
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Tropical, temperado
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A estação
em que se desenvolvem
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Primavera, Verão, Outono
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Tipo e
ambiente
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Solo, água ou ar
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A sua
situação no ciclo de crescimento
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Semente para uma nova vida ou completamente maduro
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Onde
crescem
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Montanhas, planícies, solo rochoso, árvores, rios, mar
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Desenvolvimento
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Lento, rápido
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A sua
situação dentro do ciclo evolutivo
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Primitivo, moderno
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Alimentos
locais
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Alimentos tradicionais e naturais da zona
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Mudar a nossa energia
O nosso corpo leva cerca de 10
dias para substituir a totalidade dos glóbulos brancos, de modo que se
consumirmos alimentos de forte energia vital durante este espaço de tempo
poderemos aumentar de modo significativo o nosso bem-estar. Em 4 meses, o nosso
corpo substitui todos os glóbulos vermelhos, pelo que se seguirmos uma dieta
curativa com esta duração produzir-se-ão mudanças mais profundas. Além disso, é
um período de tempo suficiente para que possamos ter consciência como é
sentirmo-nos de boa saúde. Em suma, poderemos reconstruir o corpo inteiro com
base num certo tipo de energia e seleccionando os alimentos de acordo com o
tipo de energia que desejamos promover.
A energia direccional dos
alimentos
A direcção na qual crescem os diferentes
alimentos também influencia a qualidade energética que nos transmitem. Quando
os comemos, captamos parte da sua energia direccional, o que estimula a energia
do corpo a mover-se nessa mesma direcção. Isto dá-se, sobretudo, com os
legumes. Por exemplo, quando comemos legumes verdes como o aipo, a cebolinha ou
a couve chinesa, a energia tende a mover-se para cima; estando a enviar-se mais
energia para o coração e a cabeça, isso fará com que nos sintamos algo mais
leves. Os legumes de raiz estimularão o assentamento da energia, pelo que se os
consumirmos sentir-nos-emos fortalecidos na zona baixa do abdómen. Além disso, a
energia tende a afastar-se da cabeça, o que vai favorecer o relaxamento, que
sejamos mais práticos e que tenhamos os pés bem assentes na terra. Os legumes
redondos dão origem a que a energia se expanda com suavidade, que produzirá uma
sensação cálida de satisfação à volta do estômago. Os cereais cozinhados
originam que a energia flua para dentro, enquanto os alimentos que tornam a
energia ligeira, limpam.
As técnicas de preparação dos
alimentos
Além dos ingredientes, as diferentes técnicas de preparação dos
alimentos também influenciam no modo como flui a energia.
Cozinhar os alimentos no vapor estimulará um fluxo energético
ascendente, fritá-los favorece o movimento da energia para fora, estufá-los em
lume brando ajuda a que a energia desça; se utilizarmos uma panela de pressão
tornaremos favorável o movimento energético centrípeto, e cozê-los estimula a
fluidez. Por conseguinte, poderemos fazer um estufado de cenouras para
estabilizar a energia ou cozinhar folhas verdes no vapor para favorecer a que a
energia ascenda mais activamente.
Quando utilizamos os alimentos
com fins curativos, temos a possibilidade de escolher os ingredientes e
prepará-los de forma a que enviem energia vital saudável a certas partes do
corpo. Por exemplo, podemos cozer folhas de couve no vapor para ajudar o corpo
a superar uma congestão pulmonar, ou fritar cebolas para expandir a energia e,
deste modo, estimular as zonas periféricas corporais. Inclusivamente existe a
opção de utilizarmos uma combinação de energias: para estimular a mente, por
exemplo, recomenda-se uma sopa de miso com cebola, couve chinesa e cebolinhas
fritas, e se além disso juntarmos um pouco de gengibre ralado, a experiência
será ainda mais intensa.
Os benefícios de cada estação
Foi o médico japonês Sagen Ishizuka quem primeiro propôs que comer
alimentos de estação (da temporada) pode beneficiar a saúde. Deu-se conta de
que, num clima temperado, os alimentos disponíveis em cada estação concreta são
portadores da estrutura energética e biológica dessa estação e fazem-nos sentir
em harmonia com as suas características climáticas. Isto aplica-se com
facilidade às frutas: os morangos amadurecem em finais da Primavera; os
damascos e os pêssegos estão no ponto no Verão; as amoras pretas aparecem no
fim do Verão, ao passo que as peras e as maçãs estão prontas no Outono.
Com o decorrer do tempo, à medida
que formos consumindo mais alimentos próprios de cada estação, começaremos a
absorver a energia das estações com mais força e a estabelecer uma conexão mais
poderosa com os ritmos da natureza. Isto, por seu lado, estimular-nos-á a
adaptarmo-nos ao mundo em que vivemos, conceder-nos-á uma maior harmonia e fará
com que nos sintamos mais flexíveis.
Algumas considerações acerca do
clima
É certo que os alimentos que
crescem de forma natural nos diversos climas encaixam perfeitamente com as
pessoas que vivem nesses climas. De modo que, por exemplo, comer sobretudo
alimentos tropicais e viver num clima frio não será o melhor para a saúde: o
sangue poderia tornar-se demasiado fino, ou demasiado ácido, e faltar gorduras.
Consumir alimentos próprios do clima em que vivemos permite-nos sentir mais em
comunhão com as condições climatológicas de cada estação.
Os alimentos locais
Se desejarmos fortalecer a nossa
relação com o meio ambiente, tentemos comer mais alimentos cultivados na zona
(alimentos locais). Se a população local é saudável e com longa vida há várias
gerações, poderemos acreditar que os alimentos tradicionalmente autóctones
dar-nos-ão a energia e os nutrientes adequados para a nossa saúde.
A
DIRECÇÃO EM QUE CRESCEM OS ALIMENTOS
Para
cima
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Para
fora
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Para
baixo
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Horizontal
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Alho francês
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Cebolas
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Cenoras
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Pepino
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Cebolinhas
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Abóbora
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Pastinagas
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Raiz de lótus
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Couve chinesa
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Couve nabo
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Daikon/rábano japonês
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Curgete
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Espargos
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Nabos
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Bardana
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Folhas de couve
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Repolho
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Brócolos
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Batatas
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Couve flor
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Batata doce
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Salsa
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Rábanos
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Agriões
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Gengibre
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Alho
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Ar, solo ou água
O meio em que se desenvolvem os alimentos também tem repercussões na
energia que absorvemos comendo-os. As partes dos legumes que crescem acima do
solo – como no caso dos legumes de folha verde, brócolos, couve-flor ou
cebolinhas – absorvem a energia ampla e em constante mudança do ar, sobretudo
se crescem no exterior ao ar livre e não numa estufa. Interagem com o ar e são
estimuladas pelo Sol; também sofrem as mudanças de temperatura, assim como o
vento e a chuva, a noite e o dia.
Aumentar o consumo de alimentos com esta qualidade energética pode
ajudar-nos a equilibrar o nosso estado de ânimo, a aceitar as mudanças com
melhor disposição e a adquirirmos uma perspectiva mais larga da vida.
Os legumes que se desenvolvem debaixo da terra alimentam-se num ambiente
relativamente estável. A temperatura e a humidade influenciam as cenouras, as
pastinagas, os rábanos e outros legumes deste tipo, porém estes factores mudam
com relativa lentidão. Experimentemos consumir mais alimentos com esta qualidade
energética para nos sentirmos com os pés mais assentes no chão e estáveis.
As algas e o peixe captam o fluxo
e refluxo marinho. São expostos à luz solar, à noite e ao dia, porém estão
submetidos a mudanças de temperatura lentas e breves. Nas algas esta energia
tem uma qualidade elástica que nos ajudará a ser mais flexíveis, tenazes e
tolerantes.
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Onde e como se cultivam os
alimentos
O local onde cresceram os alimentos que consumimos também joga um
papel importante no desenvolvimento da sua energia individual. A cenoura que
teve que romper através de um solo rochoso terá uma energia diferente de outra cenoura
que cresceu em solo bem lavrado e suave. A primeira desenvolveu uma energia
tenaz e enérgica e, se comermos este tipo de cenoura com regularidade, também
absorveremos em certa medida essa energia. Para aumentar a nossa força,
experimentemos comer legumes com raízes retorcidas e assimétricas.
Os legumes de montanha, como o
jinenjo, uma batata selvagem japonesa, possuem uma energia mais resistente
e vertical em comparação com as cultivadas nas planícies.
Um peixe como o salmão selvagem terá um tipo de energia muito
diferente do da lula. O salmão tem que nadar contra as correntes e saltar
cascatas, ao passo que a lula nada em águas mais cálidas. Para uma situação em
que tenhamos que defender o nosso ponto de vista pode ser conveniente o tipo de
energia que proporciona o salmão, ao passo que para nos acalmarmos será melhor
o da lula.
As frutas típicas de árvores
frutíferas, como as maçãs, as ameixas, as laranjas e os limões crescem no alto,
e isso confere-lhes um tipo de energia muito diferente ao do das frutas que se
desenvolvem no solo. Ao estarem situadas a certa distância do solo, contêm uma
energia propícia a deixar-nos afastados dos assuntos práticos quotidianos, de
desenvolvimento da imaginação e duma espiritualidade mais elevada.
O ciclo de crescimento
Comer alimentos que estão no início do seu ciclo de crescimento, como
as leguminosas, as sementes, os frutos secos e os cereais integrais,
nutrir-nos-ão com uma energia associada ao princípio da vida. Esta energia
juvenil é muito promissora e contém um espírito de que “tudo é possível”.
Dispõe da energia necessária para o crescimento e a expansão. Georges Ohsawa
dava muita importância ao continuarmos a manter, incluindo os adultos, a
curiosidade e o desejo de questionarmos tudo como as crianças. Costumava usar a
expressão non credo para referir-se a
isso, que literalmente significa “não
creias em nada”, ou por outras palavras: questiona tudo. Comer cereais e sementes ajudar-nos-á a redescobrir
a sensação de surpresa e a dispormos do entusiasmo necessário para
empreendermos novos desafios.
Alimentos como os legumes, o peixe e a carne alcançaram um grau de
maturidade completo quando os comemos, sobretudo se não procedem de estufas nem
tão pouco foram criados em cativeiro ou foram processados industrialmente, e
transmitem uma energia que tem a ver com a sobrevivência. Absorver esta energia
através dos alimentos, em especial através da carne ou do peixe provenientes de
animais em liberdade, aumenta o reflexo de “luta ou fuga” e agudiza os nossos
instintos de sobrevivência. Além disso, traz-nos maturidade que beneficiará e
promoverá a experiência e a sabedoria da vida.
Existem outros alimentos dos
quais comemos apenas a parte que alimenta as sementes durante o seu
desenvolvimento. Por exemplo, a polpa de uma maçã alimenta as sementes; é uma
espécie de comida para bebes. Isto, junto com os produtos lácteos de vaca ou de
cabra, dá-nos o tipo de alimento que necessitamos durante os primeiros anos de
vida. Acalmam, tranquilizam e nutrem.
ALGUNS EXEMPLOS DE ALIMENTOS
VIVOS
Cereais integrais
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Aveia, arroz, trigo, millet, cevada, maçaroca de
milho, centeio, quinoa, amaranto, trigo sarraceno, kamute
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Leguminosas secas
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Lentilhas, feijão azuki, ervilhas, feijão mongo,
feijão vermelho, feijão pinta, feijão manteiga, feijão frade, soja preto ou
amarelo, feijão preto
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Legumes
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Legumes de folha verde, legumes de raiz, algas
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Fruta fresca
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Bagas, frutas de árvore como maçãs e peras,
frutas de terra como melões e melancias
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Sementes
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Sésamo, girassol, abóbora, linho
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Frutos secos
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Amêndoas, avelãs, nozes, caju, nozes do Brasil
(pacanas)
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Produtos fermentados
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Miso, shoyu, vinagres, iogurte, queijos frescos,
tempeh, natto, pickles
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Os tempos de crescimento
A velocidade a que cresce um
alimento influencia a sua própria energia e, quando os ingerimos, também
influenciará a nossa energia. Os rábanos, as curgetes, as abóboras e os pepinos
crescem depressa e favorecem as mudanças energéticas rápidas. Os alimentos de
crescimento lento repercutir-se-ão na nossa energia de maneira mais lenta,
porém o seu impacto será mais duradouro.
Primitivos ou modernos ?
Consumir alimentos primitivos, como algas, mexilhões, amêijoas ou
ostras, nutrirá a nossa energia com estímulos mais primários. Esta é a energia
da sobrevivência e da reprodução, e, por conseguinte, este tipo de alimentos
são ideais para fortalecer estes instintos. Os organismos simples da comida
fermentada estimularão a nossa força interna primitiva. Estes alimentos são
benéficos quando o que queremos é desfrutar do processo da vida.
As frutas são um exemplo de alimentos
mais modernos. Comer fruta pode contribuir para elevar o nosso pensamento e
proporcionam o nosso interesse pelo futuro.
Alimentos
que nos beneficiam
Não devemos tomar nenhum destes conceitos como um “tudo ou nada”. Não
se trata de que a nossa alimentação se vá basear exclusivamente em alimentos
locais nem consumir unicamente produtos próprios do nosso clima e da estação.
Poderíamos experimentar consumir
unicamente este tipo de alimentação durante algum tempo, ou simplesmente ter em
conta os factores que melhor se adaptem às nossas necessidades actuais. Uma vez
que adquiramos experiência, poderemos utilizar os princípios da Macrobiótica
como e quando deles necessitarmos.
Autores de referência:
. Simon Brown