sexta-feira, 12 de abril de 2013

O REGIME Nº 7 DE OHSAWA



“Mono dieta de arroz integral, beber o menos possível”
(Extraído do livro: “L´Art de vivre macrobiotique” – Gérard Wenker, édition 2004)

Foi através deste regime que a Macrobiótica se fez conhecer no início dos anos 60 do século passado, com a aparição na Europa do livro de Georges Ohsawa: “O Zen Macrobiótico - non credo, vivere parvo” (não crer, contentar-se com pouco para viver livre).
O regime nº 7 na classificação de Ohsawa, que conta com 10 regimes, fez correr muita tinta e é certamente o mais controverso: “Mono dieta de arroz integral, beber o menos possível”.
À parte o jejum, não podemos encontrar nada mais simples; simplicidade, eficácia, e atenção também perigo. Podemos ver neste regime uma aplicação da 5ª lei da lógica universal: “Lei da balança – quanto maior a face, maior o dorso”.
O que significa: quanto maior a eficácia, maior o risco.
“A teoria sem a prática é inútil e a prática sem a teoria é perigosa” – eis o problema deste regime. Aplicar as directivas macrobióticas sem conhecer os princípios da dialéctica universal, é como dar a conduzir um carro a um cego. Temos que conhecer as regras dialécticas subjacentes à alimentação macrobiótica.
Não devemos lançar-nos levianamente em mono dietas sejam elas quais forem e muito particularmente neste famoso regime nº 7 com 100% de cereais.

Quadro nº 1 Quadro original das 10 maneiras de nos alimentarmos segundo o método macrobiótico, tal como constava da página 59 do “Zen Macrobiótico”:




Cereais


Legumes

Sopas

Carnes

Saladas
7
100%




6
90%
10%



5
80%
20%



4
70%
20%
10%


3
60%
30%
10%


2
50%
30%
10%
10%

1
40%
30%
10%
20%

1
30%
30%
10%
20%
10%
2
20%
30%
10%
25%
10%
3
10%
30%
10%
30%
15%

Comentário que acompanhava este quadro:
Beba o menos possível. Se não conseguir o bem estar desejado, tente o regime imediatamente acima. O mais elevado, o nº 7, é o mais fácil; sendo os mais baixos os mais difíceis.
Por mais fácil, George Ohsawa entendia mais fácil de equilibrar na perspectiva yin-yang; e o mesmo para o mais difícil; quanto mais ingredientes maior experiência é preciso.

Na época em que aparece este regime apenas havia como ferramenta de referência o pequeno livro de George Ohsawa. Podemos imaginar e compreender a dificuldade e o perigo dum tal método de alimentação, particularmente numa época em que o fanatismo do movimento “hippie” sucedia ao entusiasmo.
Porém, a partir de 1975, as coisas mudaram radicalmente com a organização em toda a Europa de múltiplos seminários com o novo líder da macrobiótica mundial, o professor Michio Kushi.
Com a ajuda da prática e a grande variedade de livros e periódicos, a macrobiótica tornou-se omnisciente. È igualmente a partir desta época que existem duas correntes, a tendência francesa yang mais estrita e restritiva da escola Ohsawa e a corrente americana de Kushi mais realista, melhor integrada mas mais yin.
Logo que restabelecida a saúde, cada pessoa deverá encontrar o mais rapidamente possível a sua própria opção/via, tendo em consideração os factores “yin-yang” habituais: constituição, condição, idade, sexo, meio envolvente, etc.

O porquê duma mono-dieta de cereais
A que se deve a sua eficácia
Quais são os efeitos secundários

Os grãos de cereais, leguminosas e oleaginosas são a alimentação principal da humanidade há milhares de anos, estão na base de todas as grandes civilizações e os outros alimentos, tais como os frutos, legumes, carnes são alimentos secundários; não é recomendável introduzi-los em grandes proporções numa refeição equilibrada. No grão toda a energia vital está concentrada e pronta a brotar para perpetuar sem descanso a vida das espécies. Esta concentração energética faz deles os alimentos mais yang do mundo vegetal.
Desde que os cereais sejam integrais, o seu valor nutritivo é o mais equilibrado de todos os alimentos. Mas o que faz deles o alimento ideal para uma mono dieta, é o facto que os cereais contêm muito poucos dejectos, conhecidos pelo nome de purinas como o ácido úrico e a xantina que são verdadeiros venenos para o organismo.

Quadro nº 2 Doses comparativas de purinas em mg/100g de alguns alimentos:

Carne
1500

Nota do tradutor: O ácido úrico é o produto final do metabolismo das purinas, substâncias presentes em muitos alimentos. Cerca de 10% das purinas provêm da alimentação, sendo o restante sintetizado pelo nosso organismo – no nosso corpo há uma produção e destruição constante de células, de onde resulta grande quantidade de purinas.
Peixe
150
Café
1000
Cacau
2200
Chá
2800
Pão
50
Cenouras
5
Arroz
0

O arroz não contém nenhuma purina, razão pela qual em macrobiótica o arroz é o cereal da desintoxicação e por consequência o cereal da cura. Em caso de problema voltar sempre ao arroz e aos outros cereais – nada ou poucas toxinas, muito energético – eis a razão do regime nº 7.

Precaução:
O arroz tem um grande poder de limpeza do organismo – as toxinas libertadas são veiculadas pelo sangue antes de serem eliminadas pelo sistema excretório. É fácil de compreender que em caso de grande acumulação, esta brusca difusão de dejectos por todo o corpo, pode causar fenómenos de eliminação equivalentes a uma mini intoxicação. Para os macrobióticos e vegetarianos não haverá em geral problemas; para os carnívoros e pessoas doentes é preferível seguirem durante algum tempo o regime macrobiótico padrão antes de se lançarem no regime nº 7 com consequências incertas. Dito isto e depois de tomar todas as precauções e do mínimo de bom senso, todo o macrobiótico deveria experimentar os 10 dias de regime nº 7 – seja sob o controlo de um macrobiótico experimentado em caso de problemas de saúde, seja a título pessoal enquanto exercício da vontade ou experiência espiritual.
Existem várias variantes do nº 7 consoante o objectivo e a acção procurados.
Se queremos tirar o máximo de eficácia e proveito de tal dieta a primeira coisa a fazer, é escolher o nº 7 que melhor convém em função da condição física e psíquica de momento. A segunda coisa que tem uma grande importância é de se preparar mental e psicologicamente para decidir o melhor momento, dia, mês, estação, para começar. Compor-se-á o seu nº 7, segundo as nossas necessidades, sabendo que cada cereal tem uma acção específica.
·    O arroz é um poderoso desintoxicante do sangue, limpa os tecidos em profundidade.
·    O trigo sarraceno é muito energético, bom para pessoas fracas e friorentas.
·    A cevada tem uma acção calmante sobre o sistema nervoso.
O cereal principal em certas circunstâncias pode ser acompanhado por um outro cereal secundário ou por um específico que reforçará e complementará a acção.

Alguns exemplos do regime Ohsawa nº 7

Para uma duração de 10 dias no máximo. Porquê 10 dias ? – considera-se geralmente que um décimo dos glóbulos vermelhos do sangue se regeneram diariamente, então em dez dias o nosso sangue será inteiramente renovado e limpo.

Quadro nº 3 Alguns exemplos de regime Ohsawa nº 7 – Versão de G.Wenker


Manhã
Pequeno Almoço
Meio Dia
Almoço
Noite
Jantar
Nº7 1
… Nada …
O mais rigoroso
1 tigela de arroz integral +
1 colher de café (c.c.) de gomásio + 1 chávena de chá 3 anos. Mais nada.

… Nada …
Nº7 2
1 tigela de creme de arroz integral + 1 c.c. de tamari
1 tigela de arroz integral com gomásio + 1½ chávena de chá 3 anos

½ chávena de chá de 3 anos
Nº7 3
1 tigela de creme de arroz integral com uma c.c. de tamari
1 tigela de arroz integral com gomásio
1 chávena chá Mú

Idem Almoço (mastigar pelo menos 50 vezes) com 1 chávena de chá 3 anos
Nº7 4
1 tigela de kokkoh com tamari + 2 galetes de arroz
1 chávena de chá 3 anos
1 tigela de sarraceno ou de soba (massa de sarraceno) + 1 c.c. de gomásio
1 chávena de chá 3 anos

1 tigela de millet ou de arroz integral com gomásio
1 chávena de chá 3 anos

Nº7 com cereais e específicos

Nº7 5
1 tigela de creme de cereal (arroz, cevada, aveia, kokkoh, etc.) + 1 fatia de pão integral barrada com miso doce + 1 chávena de café de cereal yannoh

1 tigela de cuscus ou bulgur com gomásio + 1 chávena de chá 3 anos ou chá Mú
1 tigela de kuzu com ½ ameixa umeboshi e 1 c.c. de tamari
1 chávena de chá 3 anos
Nº7 6
1 tigela de tsampa (cevada tostada moída) com + gomásio + 1c.c. de tahin
1 chávena de chá Mú
1 tigela de sarraceno ou millet com ½ c.c. de tekka
1 c.s. de alga hiziki. Uma noz de seitan condimentado com tamari
1 chávena de chá 3 anos

1 tigela de arroz integral. 2 c.s. de azuki. Beber o sumo dos azukis (1/2 chávena)
Nº7 7
1 tigela de mingau de flocos de aveia com gomásio
1 chávena de chá verde

1 tigela de caldo de miso com ½ folha de alga nori + 1 chávena de soba 100% sarraceno
1 tigela de arroz integral ou quinoa com tamari ou tekka
1 chávena de chá de arroz


Isto dá uma pequena ideia da maneira de conceber a Nº 7.


Ainda algumas recomendações

·         Para os regimes nº 7 de longa duração (mais de 7 dias) polvilhar sobre os cereais uma pitada de salsa fresca picada.
·         Escolher com cuidado um regime nº 7 e adoptá-lo durante toda a duração da cura.
·         O gomásio deve ser preparado na proporção de 1:7 a 1:18 (1 de sal + 7 a 18 de sementes de sésamo), em função da condição individual de saúde.
·         Os cereais serão cozinhados com o menos possível de água.
·         Utilizar uma tigela em vez de um prato, e comer com “baguetes” – medida mais regular, come-se mais lentamente e com menos líquido.
·         Preparar as quantidades para 2 ou 3 dias, é mais fácil.
·         Beber pouco, mastigar bem e praticar diariamente exercícios físicos ou de Do-in.


Pequeno glossário dos alimentos macrobiótico:

Gomásio
Condimento composto de grãos de sésamo tostados, esmagados com sal num almofariz estriado (suribashi). Desacidificante do sangue.


Tamari
O Tamari vendido na Europa é na realidade shoyo concentrado. O verdadeiro Tamari autêntico é um sub produto da fabricação do miso. É muito forte, espesso e não contém trigo.


Shoyu
Molho de soja tradicional, contendo soja, trigo, sal e água da fonte. Colocado em cultura com koji a sua fermentação dura cerca de 12 a 18 meses. Na Europa é comercializado sob o nome de Tamari, isto para não ser confundido com os molhos de  shoyu industrializados elaborados quimicamente e em apenas alguns dias.                                                       


Chá de 3 anos
Ou kukicha – composto por ramos e folhas do chá japonês. Rico em minerais, taxa muito baixa de teína (0.01). Fortificante e bom para a memória.


Chá Mú
Infusão de 16 plantas entre as quais o ginseng. Muito bom para todas as doenças. Específico dos órgãos femininos. Bebida yang, muito energética concebida por George Ohsawa.


Kokkoh
Mistura especialmente elaborada a partir de grãos tostados: em quantidade decrescente – arroz, trigo, aveia, sésamo e azukis todos moídos finamente. Fortificante.


Galetes de arroz
Bolachas feitas de pipocas de arroz integral.


Sarraceno
“Trigo” sarraceno: Erva cerealífera rústica em forma de triângulo, originário da Rússia, o mais yang dos cereais. Contrai os tecidos, regenera as células, baixa a tensão.


Soba
Massas (esparguete) confeccionadas com farinha de trigo sarraceno. Prato que aquece.


Millet
Ou milho painço. Bom para descalcificação e queda de cabelo, obesidade, diabetes.


Miso
Pasta longamente fermentada sob pressão a partir do feijão de soja, ceral, sal e de koji (enzima, fermento).


Café yannoh
Tostar num pouco de óleo de sésamo: 3 partes de arroz + 2 de azuki + 2 de trigo + 1 de grão de bico, moer.Ferver 2 colheres de sopa em ½ litro de água durante 10 minutos. Estimulante cerebral, eficaz para dores de cabeça crónicas yin.


Cuscuz
Trigo partido parcialmente refinado.


Bulgur
Trigo duro ligeiramente germinado, cozido no vapor e depois seco ao Sol e finalmente britado.


Kuzu
Fécula branca de amido extraída de uma raiz de uma planta selvagem. Utilizado em cozinha como gelificante. Específico yang dos intestinos. Regularizador dos intestinos, bom para o estômago e em caso de reumatismo, etc.


Umeboshi
Pickles de ameixa de Ume salgadas, envelhecidas durante anos em barril de madeira (envelhecidas em casco).


Tahin
Puré (“manteiga”) obtido a partir de sementes de sésamo trituradas e salgadas. Distingue-se o tahin integral e o tahin branco. Substitui a manteiga na cozinha macrobiótica.


Tekka
Da palavra japonesa TEK que quer dizer FERRO. Condimento muito yang composto por raiz de bardana, de raiz de lótus, de cenoura, de gengibre e de um pouco de óleo de sésamo. Finamente picado, fica 3 horas em miso de soja, é um tónico do coração e um “yanguizador” muito potente, a ser utilizado com moderação.


Hiziki
Alga negra em forma de filamento, sabor a iodo forte, a mais yang das algas. Para a circulação do sangue (veias).


Seitan
Proteína concentrada (glúten) extraída da farinha de trigo por amassadura em água fria para eliminar o amido. A parte restante com aspecto de uma bola de caoutchouc é cozida em água a ferver com tamari e alga kombu.


Azuki
Pequeno feijão vermelho escuro, específico dos rins.


Nori
Algas negras, apresentando-se sob a forma de folhas delgadas de 20 x 20 cm. Utilizadas para envolver os rolos de arroz (mori-maki, sushi). Podem ser consumidas tal qual, esmigalhadas directamente no prato sobre os cereais.




Autores de referência
Gérard Wenker




3 comentários:

  1. Ola por favor nós nos interessamos por essa dieta macrobiotica porem estamos enfrentando certas dificuldades de achar os produtos a exemplo os chás Mú e trêz anos e a farinha de arroz integral.Moramos na mooca, será possível nos orientar onde comprar aqui pela mooca ou só encontraremos na Liberdade

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  2. Para quem já fez a alimentação macrobiótica sabe dizer com precisão que foi a melhor decisão tomada. Por pressão de familiares, por estar magro demais e parecendo velho, deixei essa pérola, mas estou voltando. Posso afirmar que foi o melhor período de saúde que já tive, desci de 98 kg para 76 kg. Foi fantástico, todavia para migrar foi uma guerra de estômago. Roncava de fome por estar enorme. A quantidade de alimento que passei a oferece-lo não havia como convence-lo a aceitar, foi sintoma de fraqueza, dores de cabeça, impaciência até se conformar. Daí por diante foi sensacional, muita disposição e muita energia. Foram 5 anos sem gripe ou qualquer outra doença. Quando ia ao médico para fazer checape anual, dizia-me o que estava fazendo lá no consultório, já que os exames anteriores serem precisos e normais.

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  3. Se não tem a farinha de arroz integral para fazer o creme de arroz, deixe o arroz, depois de lavado, de molho na água por uma noite e pela manhã, dispense aquela água e coloque com outra água no liquidificador e passe bem para depois cozinhar até ferver por 10 minutos em fogo médio para depois de esfriar comer com gersal ou molho de soja. Uma delícia. O chá use o Banchá que é muito usado nessa alimentação. Um ótimo chá.

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